Deslize em Inazuma Eleven: Ares no Tenbin
Franquia fez 10 anos e ganhou uma nova aposta da LEVEL-5 e uma nova Raimon.
Se tem algo que eu admiro na LEVEL-5 é a sua capacidade de criar franquias. Wokai Watch foi a primeira franquia de jogos e brinquedos a ameaçar de verdade a hegemonia de Pokémon no Japão forçando a produtora Game Freak a correr atrás e atualizar seus monstrinhos para a nova geração que já não tinha tanto interesse em mecânicas engessadas há mais de 20 anos.
Inazuma Eleven (イナズマイレブン) ou “Super Onze” como ficou conhecido no Brasil é uma franquia de jogos de RPG para Nintendo DS, 3DS, Wii, WiiU e Switch de temática em futebol. Com mais de 10 jogos e 14 temporadas de anime foi ficando evidente que a fórmula estava em desgaste. Então a LEVEL-5 decidiu tomar uma decisão, no mínimo, arriscada. Fazer um soft reboot na história contada até então criando uma nova mitologia, mas dessa vez atualizando com diversas novidades e claro vender mais produtos.
Importante: Para entender dos assuntos tratados aqui é fundamental conhecer os eventos do primeiro jogo/temporada do anime: a Saga Torneiro Futebol Fronteira. Que equivale aos episódios 1 a 26 do anime e o primeiro jogo lançado em 2008 para Nintendo DS.
Em julho de 2016 durante um evento anual da LEVEL-5 conhecido como Level Vision foi anunciado o anime e o jogo Inazuma Eleven: Ares no Tenbin (イナズマイレブン: アレスの天秤) para PlayStation 4, iOS, Android e Nintendo Switch. Assim como diversas franquias eles decidiram ir no passado e buscar a essência para se criar uma nova geração de fãs.
Um reboot na franquia? Mais ou menos.
Tudo começa no chamado “Outro Episódio 27” que é justamente o episódio em que a série toma um rumo sem volta. Nele “aliens” invadem a terra e a equipe Raimon viaja pelo país visitando outras escolas e formando um time que os ajude a derrotar os invasores que por algum motivo estranho jogam futebol.
O novo episódio rebatizado agora de Inazuma Eleven: Reloaded reconta os eventos após a Raimon vencer o Colégio Zeus e se sagrar o campeão do Torneio Futebol Fronteira Nacional (TFF). Nesta nova versão não acontece a invasão do Instituto Alien e as escolas não foram destruídas e é por isso que personagens que antes faziam parte dos times aliens agora são alunos comuns e disputam o torneio. A serie toma então um rumo inesperado com temas mais “pé-no-chão”. Basta pensar nos rumos que Inazuma Eleven Go e a seguinte Inazuma Eleven Go: Galaxy tomaram onde os jogadores tinham armaduras, totens e até vinham de períodos diferentes no tempo. Que bom que a LEVEL-5 percebeu o rumo errado e resolveu trazer de volta o que tornou a franquia especial.
Um integrante da Raimon em cada canto do país.
Com a fuga de Kageyama e o fim do campeonato a Raimon é convidada para uma reunião com o diretor do colégio de Inazuma e o diretor da seleção do Japão. Eles acreditam que no atual nível é impossível que a seleção japonesa vencer o Torneio Futebol Fronteira Internacional, uma espécie de Copa do Mundo de Futebol Júnior e para provar isso fazem o time da Raimon participar de “amistoso” com a seleção da Espanha nomeada aqui de Barcelona, só que esqueceram de avisar isso pros garotos que vão jogar achando que tinham alguma chance. Os Super Onze levam uma sova homérica sendo massacrados por 13 x 0 e no fim percebem que eles têm mesmo muito que aprender.
Diferente do que acontece na segunda temporada da série clássica, onde o time parte numa viajem de ônibus ao redor do mundo para recrutar novos jogadores. A Raimon é espalhada pelo país com o objetivo de elevar o nível dos times. Alguns acontecimentos permanecem como Domon e Ichinose indo para os EUA, algo que só acontecia no final da Saga Alien e um ano depois um novo torneiro é organizado, passando por diversas mudanças e com o número absurdo de mais de 100 times, que não aparecem é claro. O objetivo é amadurecer e profissionalizar o futebol no Japão, leia-se: “mais brinquedos para LEVEL-5 vender”.
Daqui a pouco explicou sobre isso, mas antes temos que apresentar o novo time da Raimon.
Uma nova saga, uma nova Raimon
Difícil imaginar quem poderia levar o legado do time da cidade de Inazuma, mas a resposta vem de um lugar improvável e posso até dizer que foi bem forçada essa solução.
Num dramalhão digno de uma novela mexicana ruim, ou um episódio de Jojo’s Bizarre Adventure, somos apresentados aos garotos do Inakuni Futebol Clube da pequena ilha Inakuni. Eles treinam futebol apenas pelo amor ao esporte e a felicidade desse grande paraíso.
Inamore Asuto é um dos três personagens principais da série é de longe o personagem que mais sofreu na franquia. Em pouco menos que 20 minutos ele perde o campo de time de futebol apenas porque o diretor quis ponto e a mãe para uma doença que em nenhum momento é apresentada. Seu pai como vamos descobrir no futuro é ou foi um jogador profissional de futebol e a mãe de Asuto devido a sua doença não poderia acompanhá-lo em suas viagens e por isso decidiu ir morar na ilha e criar o filho sozinho. Sentido? Pra quê?
Sem um time os garotos seriam obrigados a abandonar o futebol que tanto amam. Tudo muda quando diretor os chama e diz que apareceu um patrocinador, sim do nada também, que toparia financiar o time de Inakuni apenas caso eles vencessem uma única partida, até aí beleza, só que a partida é contra a Seishou Gakuen que havia se tornado famosa por ter derrotado a Teikoku Gakuen numa partida amistosa e que hoje contava com dois jogadores destaques: Yuto Kido (ex-Teikoku e Raimon) e Haizaki Ryouhei.
Fun Fact 1: O diretor da escola Inakuni é o antigo vice-diretor do colégio de Inazuma, que secretamente trabalhava para Kageyama e já tinha tentado matar os jogadores da Raimon durante a série clássica.
Sem ter muita noção do que isso significaria, os garotos têm rápidas cenas de treinamento like a Karate Kid e seguem viagem a Tokyo para a partida. Lá eles conhecem o segundo personagem principal da história: Haizaki Ryouhei.
O goleador demoníaco
Chegando na escola Inazuma diferente do que se pode esperar os novatos são recebidos com hostilidades pelos outros alunos. Quando se tem um time campeão desfeito sem muitas explicações a atitude é até esperada e os garotos da ilha não sabem muito bem como lidar com isso.
Para ajudá-los surge o excêntrico técnico Zhao Jin Yun, uma espécie de “Sr. Miyagi do Futebol”, pois ele treina os garotos não os treinados. Ele os faz correr pela cidade e não apresenta tática nenhuma. Seus objetivos são um mistério, mas até o momento ele ganha a nossa simpatia, pois fica claro que ele deseja ajudar as crianças.
Enfim chega à partida e somos apresentados a Haizaki Ryouhei o artilheiro do time Seishou Gakuen e é o nosso tipico personagem “bad boy de bom coração”, aquele esteriótipo que começou lá em Clube do Cinco com o John Bender do Judd Nelson, um cara marrento, as vezes violento, mas de joga por um motivo justo. Lembra Gouenji Souya da série clássica que não jogava por uma promessa irmã feita a irmã no hospital. Esse bom coração não é tão evidente assim, pelo menos até o quinto episódio da série quando o sistema educacional Ares no Tenbin que dá o nome a série é enfim apresentado.
Aquém do esperado, a Seishou massacra a nova Raimon e faz os garotos acreditarem que o sonho tinha acabado ali. Convenhamos que se a nova série quer mesmo ter um pezinho no real, não iria rolar de qualquer forma, e como vamos ver depois a força do protagonismo irrita bastante.
Tá, mas e o gadgets?
A curiosidade dessa parte é que, como tinha comentado antes, o objetivo da série é claramente vender brinquedos e produtos relacionados a série e já nessa partida somos apresentados aos Eleven Bands e as Eleven Licences.
Na série ela tem a função de medir o status físico do jogador, informar sobre a partida e receber instruções do técnico. Mas o físico vendido pela LEVEL-5 é capaz de acumular pontos que podem ser usados no jogo, bem como receber notícias de eventos no jogo e permitir o uso das cartaz do card game da série pelos Eleven Licences que é outro gadget da série. Esse é mais simples, pois se trata de um card que permite o uso dele no jogo liberando personagens e técnicas novas no game de Nintendo Switch.
Uma derrota que foi mais uma vitória
Apesar da derrota, o time sai como o vencedor. Devido as corridas sem sentido pela cidade o novo time ganhou a simpatia da cidade resolvendo o problema de eles serem forasteiros e o do patrocínio, pois o empresário viu a garra dos garotos e acredita que eles podem sim manter vivo o legado da Raimon, apesar de que não faz nem um ano direito que o antigo time ganhou o TFF… vai entender.
Bom, problemas resolvidos e vários Deus Ex-Maquina depois, chega mais um. Eles perderam e estão fora do campeonato certo? Errado, o novo campeonato regional se organizou de forma diferente com blocos de sete times que fazem jogos entre si, os dois com mais pontos seguem para a fase nacional composto por um matamatá de 16 times, assim como a Copa do Mundo ou na Libertadores da América, ou seja é possível perder um jogo sem que isso signifique a eliminação do torneio.
Concluindo
Quando pensei nesse texto eu não tinha a intenção de dar conta de todos os episódios de forma cronológica ou mesmo de resenhar sapoilando tudo. A minha intenção é apresentar o mínimo necessário sobre a serie para quem tem dúvidas se deve ou não ver a série.
A minha avaliação final é de que Ares tem tudo pra dar certo, pois está pegando a essência da série clássica e evitando os deslizes que as 13 temporadas anteriores tomaram levando a coisa pra outros níveis difíceis de defender. Apesar dos Deus Ex-Maquina bizarros tão comuns a esses desenhos, a mensagem é clara e bem no espírito de seu “rival” de nicho Captain Tsubasa que também voltou em 2018.